Prólogo
Eu fui destruído desde pequeno
Levando meu sofrimento pelas multidões
Escrevendo meus poemas para os poucos
Que me encaravam, me levavam, me sacudiram, me sentiram
Cantando com um coração partido pela dor
Captando a mensagem que está em minhas veias.
Dor!
Você me fez, você me fez acreditar, acreditar
Dor!
Você me destrói e me reconstrói, eu acredito, acredito
Imagine Dragons
Gustavo
Às vezes eu me pergunto, por que eu vim ao mundo? Sério! Desde que me entendi por gente, eu nunca tive aquilo que eu mais ansiava... Eu não precisava de muito. Eu só precisava que ele me olhasse com aquele olhar especial de pai, que dissesse o quanto me amava.
Por muitas vezes me peguei imaginando que ele chegaria para mim e me diria as simples palavras... "Eu te amo filho!"
Isso nunca aconteceu de verdade.
Nem sempre a minha vida foi assim. Eu tinha ela... A pessoa que me amava de verdade e com apenas o seu sorriso, ela conseguia me confortar.
Esther Arantes, minha mãe era a mulher mais linda e carinhosa desse mundo. Ainda consigo ver o seu rosto, ouvir a sua voz cantando para que eu dormisse. Seu amor, era tudo o que eu tinha, mas ela se foi e me deixou sozinho com ele.
Nem tive tempo de chorar a sua perda, pois logo no dia seguinte ao seu funeral, ele me levou para o lugar que seria a minha moradia e o meu inferno daquele dia em diante.
O Internato Menino Jesus. Um lugar frio, obscuro e impessoal. Não fui um garoto de fazer amigos, então vivia sempre sozinho, ou quase sozinho, se não fosse a foto da minha mãe que sempre carregava no meu bolso.
Os dias de visitas eram sempre os piores. Eu me lembro que por algumas vezes corri para o pátio, ansioso por vê-lo. Na ânsia de finalmente receber o seu abraço, mas ele nunca veio realmente e parei de ir ao pátio nesses dias. Me doía ver que todos aqueles garotos recebiam seus parentes, mas eu continuava lá... Sempre só.
— Quem sabe na próxima visita querido. — A freira Carmélia sempre me dizia com sua voz doce e afagava os meus cabelos, abrindo um meio sorriso que já não me convencia mais de nada.
Esperei ansioso pelos meus dezoito anos, onde eu finalmente ganharia a minha liberdade. O que demorou anos para mim pareciam séculos e quando esse dia finalmente chegou, para a minha surpresa Roberto Arantes estava lá, com seu terno caro, seu olhar firme e seu porte elegante, segurando a minha mala, perto do seu carro n***o de vidros escuros.
O filho da p**a se quer me olhou.
Eu entrei em silêncio no seu carro e ele se acomodou ao meu lado, fechando a porta com uma firmeza assustadora e o carro logo ganhou movimento.
— Você agora já é um homem. — Ele disse com o tom seco de sempre. — Logo, logo estará assumindo a empresa da família.
De verdade, eu tinha raiva de ouvir esse assunto.
Porra! O que ele tinha dentro do peito? Uma pedra de gelo?
Eu não lhe respondi, apenas olhei para o lado de fora na janela e escura, soltando um suspiro baixo.
Sinto Marcelo me cutucar, me chamando. Na minha cabeça eu tentava e mantinha toda a minha dor guardada, sempre me senti muito quebrado e acho que nunca vou deixar de ser... não consigo me ver com uma família e amando alguém, porém fico satisfeito com meus poucos amigos, as mulheres que eu posso pegar e o meu cigarro.
Acendo o meu cigarro e olho para Marcelo que está parado em minha frente ainda falando sobre alguma mulher que está do outro lado do bar pisco como se isso fizesse meu passado ir embora e olho em direção a outra mesa onde um loira sorri e brinda , não demoro mais que segundos para entender o recado dela e vou em sua direção enlaçando sua cintura e sussurrando em seu ouvido para sairmos dali .
Eu o olho o meu reflexo no espelho
Por que estou fazendo isso comigo?
Enlouquecendo por um erro tão pequeno
Eu quase deixei o meu verdadeiro eu escondido
Não, não, não, não
Não perca quem você é, no borrão das estrelas
Ver é iludir, sonhar é acreditar
É normal não estar bem
Às vezes é difícil
Seguir seu coração
As lágrimas não são uma derrota
Todos estão sofrendo
Seja verdadeiro com quem você é
Who you Are - Jessie J
Ana
Ouvir os sons das risadas deles ainda me incomoda muito. Como eu pude ser tão burra? Eu me pergunto esmurrando a lateral da minha cabeça.
Bruno Lisboa é simplesmente o garoto mais lindo do colégio e o fato dele se aproximar de mim, me tratar com um carinho especial, quando a maioria das pessoas só me tratavam feito um lixo. Deus! Parecia tão real.
Ele chegou a andar de mãos dadas comigo pelos corredores. Insinuava carinhos e beijos carinhosos. Eu me vi completamente envolvida, apaixonada. Tão apaixonada que me deixei levar e me entreguei para ele. Mas tudo não passou de uma brincadeira de m*l gosto.
Olhar os seus olhos brilhantes e o sorriso sarcástico, enquanto todos se divertiam as minhas custas. Eu só consegui chorar bem ali, diante de todos e sai correndo daquele lugar.
Pela primeira vez eu me senti exatamente como eles me descreviam... Eu era o lixo que eles insistiam em dizer que eu era.
Eu não entendo por que eles são assim. Eu me acho uma garota tão legal e só queria que eles me vissem como realmente sou e não a minha aparência. Afinal, o que há de m*l em ser gorda?
Depois daquele dia, me forcei a ir ao colégio, mesmo com aqueles malditos olhares o tempo todo em cima de mim, risonhos e debochados, eu me esforcei para terminar o ano e seguir em frente.
Hoje eu tenho apenas um objetivo na vida. Eu quero me formar em psicologia e quero ser a melhor, chegar ao topo, não para provar alguma coisa a alguém, mas para mostrar para mim mesma, que eu posso.
Me olho no espelho mais uma vez e bufo desanimada. Não que eu me ache feia ou coisa do tipo. Tenho as bochechas levemente rosadas e gordinhas, os meus cabelos castanhos claro, com seus cachos largos, caem sobre os meus ombros e deixam o meu rosto um pouco afilado. Mas parece que as minhas roupas resolveram não colaborar comigo hoje, pois nada parece combinar.
Viro o meu corpo de um lado para o outro, observando com mais atenção a minha calça jeans e a blusa de banda que visto, caindo de um lado do ombro, e larga dando mais volume ao meu corpo.
Isso mesmo... Eu sou gorda , não acho que isso é um problema na verdade , mas escutar as criticas e os nomes que são atribuídos a mim as vezes me deixa extremamente insegura. E agora ainda mais agora , depois de tudo o que Bruno fez comigo não sinto que um dia poderei ser amada novamente por ser do jeito que eu sou . Mas hoje seria o dia que eu sempre sonhei porque pela primeira vez estou saindo da casa da minha mãe, para cursar a faculdade de psicologia no Rio de Janeiro. E por que eu estou lutando contra a minha própria roupa? Porque eu quero que tudo seja perfeito para a minha nova fase adulta.