bc

O casamento do corvo

book_age16+
399
FOLLOW
2.7K
READ
dark
contract marriage
dominant
royalty/noble
heir/heiress
bxg
medieval
virgin
wife
husband
like
intro-logo
Blurb

O que acontece com as pessoas quando elas morrem? Era um questionamento que Agnes Garcia, uma jovem camponesa no início do século XX, não costumava fazer, diferente de suas duas irmãs muito curiosas. Agnes tinha medo até da própria sombra e apenas o aconchego da vilazinha em que morava com sua família poderia deixá-la segura. Então, a calmaria desmorona quando seu pai, viciado em jogos de azar e apostas, perde tudo, o dinheiro, a fazenda e até a liberdade das próprias filhas.

Tudo o que lorde John Prince queria era uma esposa para seu filho mais velho, Edgar. E para pagar a dívida de seu pai e proteger suas duas irmãs, Agnes se propõe a se tornar a esposa, mas para seu completo azar, ela descobre que a família Prince tem o legado dos intocáveis, cabendo a eles o ofício funerário da nobreza brasileira.

Agnes e Edgar são dois estranhos que precisam dividir a mesma casa e provavelmente a mesma cama. Enquanto ela morre de medo do seu marido que por si só se parece com um defunto, ele custa a conseguir se expressar e a mostrar à sua esposa o calor de seus sentimentos.

— Os olhos dele eram tão azuis como se buscasse o Pacífico inteiro e as mãos eram geladas e grossas como de quem carregava a morte na ponta dos dedos, mas naquele momento seus lábios estavam tão quentes e úmidos e ele pareceu tão voluptuosamente caloroso...

Tudo bem se um amor nascer entre os mortos.

chap-preview
Free preview
Cobrando as contas
A visita veio à noite. Seus cavalos acordaram nossas galinhas com os cascos pisoteando a terra sem dó e os relinchos altos no momento em que pararam próximos à nossa casa. Não dormíamos ainda, era cedo e nós três, moças de mentes elétricas e sonhadoras, não conseguíamos nos desligar facilmente antes da décima badalada, às vezes nem depois disso. Mas as batidas na porta não nos causaram a melhor das sensações, pelo menos não para mim que tinha aptidão para ser medrosa. Papai era um caixeiro viajante e ainda deveria estar em Morro Alto, a capital, ou a caminho de casa. Nunca dava para saber, ele odiava escrever para nós e, por isso, sua chegada sempre era uma grande surpresa. Porém ainda era cedo para o seu retorno e tarde para uma visita sem aviso prévio, ainda mais numa casa apenas com mulheres. Segurei Ana pelos ombros enquanto mamãe e Ágata recebiam os convidados, que eu presumi serem homens a julgar pelos resmungos graves, além de seus cavalos parados de frente à fazenda, e não uma carruagem. Ficamos pela metade da escada, escondidas pela salinha onde ficava nosso clavicórdio de madeira envelhecida. Tentávamos escutar a conversa que parecia estar sendo sussurrada. Não eram boas notícias. À vista de como as coisas estavam acontecendo não poderiam ser novidades que nos agradassem. Por um momento, um mau pressentimento dominou meu corpo, tive medo de que tivessem vindo avisar que papai sofrera um acidente e morrera no caminho, desamparado. Meu Deus! O que seria de nós?! Meu coração doeu por longos segundos enquanto Ana e eu nos esticávamos e esgueirávamos à surdina, à procura de mais informações. — Consegues entender alguma coisa? — ela sussurrou para mim, colando a orelha contra a parede na intenção falha de ouvir melhor. — Não — respondi de forma inaudível vendo seus olhos castanhos sob a pouca luz do cômodo. Apenas a sala estava devidamente iluminada. Eu segurava um pequeno castiçal que costumava ficar em nosso quarto e guardava uma única vela que queimava mais rápido do que nunca. Tudo parecia muito incômodo e silencioso. — Mas creio que seja sobre papai... — completei e me arrependi logo depois ao ver que Ana chegaria às mesmas conclusões que eu. — Devíamos chegar mais perto! — sugeriu já me empurrando alguns degraus abaixo. Fui impelida pelo medo do que poderia estar sendo discutido na sala, sobre a aparência dos dois homens trajados de preto, pálidos como a neve, que vieram sem avisar a uma casa com quatro mulheres, no momento em que o chefe da família estava ausente. Deus, deveria ser mesmo sobre papai! Apertei meu peito firmemente esperando segurar meu coração que palpitava forte a ponto de doer com a ansiedade. Desci alguns passos, tropeçando em minha própria camisola e escapando para fora de nosso esconderijo sem querer, bem no momento em que os visitantes estavam de saída, por sorte. A notícia fora curta, mas mamãe e Ágata tinham expressões de pavor, que se direcionaram a mim assim que perceberam minha intromissão. Corri os olhos até os dois homens altos que já sumiam porta afora, o último chegou a me olhar rapidamente por debaixo de sua cartola preta e sinistra. Ele me viu, mas a escuridão da noite o devorou antes que eu pudesse analisá-lo. Mamãe fechou a porta logo em seguida, pondo a mão contra o peito e resmungando lamúrias indecifráveis, sua pele normalmente rosada ficou pálida como se tivessem lhe sugado todo o sangue do corpo. Ana pulou para fora do esconderijo e nos alcançou. — O que é? Diga-nos sobre o que lhes falaram ou terei um treco! — suplicou desesperada e eu não estava diferente só não conseguia expressar. Encurralamos Ágata visto que mamãe não diria nada coerente. Nossa irmã mais velha abriu a boca e fechou novamente antes de deixar qualquer palavra sair de lá. Não posso mentir, fiquei ainda mais desesperada. — É sobre papai? — perguntei imediatamente. — Está morto? — Ana gritou amedrontada. — Não! — Ágata reagiu batendo na madeira da mesa três vezes para espantar o pensamento. — Morto não! Deus o livre! Mas era sim sobre ele. Não consegui me sentir aliviada mesmo que já soubesse que papai não morrera, porque minha irmã mais velha continuava com óbvia aflição estampada em sua face. Ana tomou um papel que jazia em suas mãos e nós duas passamos o olhos pela caligrafia bem desenhada, mas eu só consegui me concentrar no nome rabiscado ao fim da página, a assinatura de papai. Voltei os olhos para as palavras anteriores e senti minha pressão cair ao entender o que estava escrito ali, o que os cavalheiros tinham vindo avisar, ou melhor, reivindicar. — O que isso significa? — Ana perguntou transitando seu olhar curioso entre Ágata e eu. Não era algo que uma criança conseguiria entender tão facilmente. — Papai apostou nossa fazenda e perdeu? — Não só a fazenda... — murmurei. — Ele apostou tudo, inclusive nós. Papai era viciado em jogos de azar e aposta. Jogava até que não houvesse alguém que pudesse jogar contra ele. Depois que ele conseguiu vencer e o prêmio nos tirou um pouco da miséria, ele acreditou que venceria todas as vezes que jogasse. Então, passou a jogar e apostar sempre que podia. Tínhamos tido alguns problemas com isso, mas nada como aquilo. Afinal, ele nunca jogara até perder tudo e precisar apostar a própria família. Aquele papel nada mais era do que um recibo, a prova de que tínhamos passado a pertencer a um desconhecido. E nosso pai tinha assinado embaixo. — Mas isso não é tudo... — Ágata nos disse hesitante e temerosa. A história tinha poréns, o acordo possuía cláusulas e entrelinhas. O nosso novo proprietário não estava interessado em nossa fazenda, como também não nos expulsaria dali. Tudo o que ele queria era uma das filhas da família Garcia, que éramos nós, para se casar com o seu primogênito. — A mais corajosa! — a nossa irmã completou apreensiva. — Foi o que nos pediu. — Papai nos vendeu e fugiu! — Ana exclamou mais irritada do que magoada. — Não fale assim do teu pai! — mamãe tomou a frente já não mais tão abalada quanto antes, até a cor tinha retornado para seu rosto. Mamãe era apaixonada por papai como nunca poderia amar nenhuma de nós três. Poderia dizer que ela amava menos Ágata e eu por sermos filhas de outras mulheres, a primeira e segunda esposas de papai que morreram no parto por complicações. Mas julgando que a filha legítima de mamãe, Ana, e ela viviam em pé de guerra, era possível dizer que ela malmente amava qualquer uma de nós, biológicas ou não. E sobre papai, ela o defenderia com unhas e dentes mesmo que isso significasse sacrificar um de suas filhas, ou todas. — Mas é verdade, mãe! — afirmei tomando as dores. — E agora precisamos decidir o que fazer. — Precisamos decidir quem é que vai! — Ana reclamou cruzando os braços e batendo o pé no chão como se fosse começar uma briga. — Não há mais nada a ser feito. Fomos vendidas como porcos! E nenhuma de nós pôde discordar. Pertencíamos, então, ao lorde John Prince do Monte do Corvo, como dizia no papel e uma de nós teria que se casar com seu desconhecido filho, Edgar.

editor-pick
Dreame-Editor's pick

bc

Atração Perigosa

read
9.0K
bc

Atraída por eles.

read
61.4K
bc

Chega de silêncio

read
2.4K
bc

O NOVO COMANDO HERDEIROS DO ALEMÃO ( MORRO)

read
14.4K
bc

INESPERADO AMOR DO CEO

read
37.7K
bc

Querido TIO.

read
10.2K
bc

O plano falhou: O Retorno da Filha Abandonada

read
8.9K

Scan code to download app

download_iosApp Store
google icon
Google Play
Facebook